Ponto de Vista: Bruno Pajeú
Venturosa360 - Quem é Bruno Pajeú?
Bruno Pajeú - Médico Veterinário com especialização em
Medicina Interna de Ruminantes e equídeos, Pós-Graduação em ensino de Biologia,
Mestrado em Sanidade de Ruminantes e Doutorando em CIência Animal Tropical com
ênfase em virologia e doenças infecciosas reprodutivas de ruminantes.
Atualmente é, professor da UniFavip, Caruaru. Antes dos títulos, venturosense
de raiz.
Venturosa360 - Como tantos jovens que deixam o interior e
vão para a capital ou para cidades que ofereçam os cursos universitários
desejados, você também assim fez, como vês hoje às oportunidades oferecidas aos
adolescentes de nossa cidade, no campo de estudos, está diferente de alguns
anos atrás?
Bruno Pajeú - O campo de estudo continua o mesmo, em minha
visão. Os jovens que se interessem em ter o terceiro grau vão continuar tendo
que fazer esse êxodo. Mas hoje em dia se tem uma maior disponibilidade de
cursos oferecidos em cidades satélites no entorno de nossa cidade. Além das
possibilidades de graduação à distância, também muito válidas.
Venturosa360 - Além de Médico Veterinário também és hoje
um professor universitário, há algum tempo atrás também passastes pelo
Instituto Federal de Petrolina, de modo que tens experiência no campo
educacional, agora do outro lado, como professor e pesquisador, como veres essa
nossa realidade nas universidades, se elas tem conseguido formar com excelência
profissionais e cidadãos, para o exercício destas funções nas comunidades que
estão inseridos?
Bruno Pajeú - Há um esforço grande nesse sentido, pois o que
se vê hoje é um alunado que acumula um certo deficit de formação no nível
médio. Mas esse não é o real problema. Ao ensinar um aluno, mesmo no nível
superior, já se tem uma percepção das competências que o aluno desenvolveu não
na educação básica apenas, mas de formação de valores. O aluno pode contribuir
muito mais com a própria formação pelos valores domésticos que foram adquiridos
do que pela formação em si. A formação, me referindo à aquisição de conhecimento,
ela vem, é inevitável, mas a formação dos valores é primordial, pois isso será
a motivação maior do discente a seguir em frente (ter disciplina, saber separar
o tempo, ser assíduo aos compromissos…). As gerações novas, na minha percepção,
estão ficando imediatistas e com isso as frustrações se tornaram mais
exacerbadas o que se traduz pelo espaço que profissionais da área de
psicopedagogia vem ocupando não só para suprir um deficit que já existia nas
gerações anteriores, mas nessa nova geração que aí está, que precise ser melhor
entendida para que o ensino seja melhor contextualizado à sua circunstância. Em
temos gerais as instituições, hoje, não conseguem formar o profissional para o
que o mercado busca. Isso tem demandado aperfeiçoamentos e um certo feeling do
profissional que a graduação não tem sido capaz de suprir.
Venturosa360 - É inevitável não lhe questionar a respeito
de um centro de zoonoses, o que temos em nossa cidade, como você tem visto está
questão em nossa Venturosa?
Bruno Pajeú - A função do Centro de Vigilância Ambiental
(antigo Centro de Zoonoses) é bem abrangente. Ele é importante por ser o local
onde profissionais da área de saúde planejam campanhas de vacinação
antirrábica, capacitam agentes de endemias, fazem a captura de animais errantes
como cães e equídeos, fazem castrações de animais da comunidade, entre outras
funções. Esses animais, além de serem fontes de transmissão de patógenos
prejudiciais à saúde, causam acidentes anualmente e impactam o Sistema de Saúde
e a vida das pessoas. Há muitos casos em nossa cidade de pessoas que se
acidentaram ou mesmo perderam entes queridos em acidentes envolvendo animais.
Dentre os mais praticados incluo aqui, apenas para exemplificar (a lista é
extensa), acidentes de trânsito, doenças negligenciadas e ataques. Ter um
centro poderia minimizar bastante essas questões pontuadas.
Venturosa360- Bruno, qual a relevância de se ter um
acompanhamento veterinário junto a formação de uma equipe epidemiológica de
qualquer município, é algo que se faz necessário?
Bruno Pajeú - O Médico Veterinário é um
sanitarista por excelência (não é autopromoção da classe, é a realidade).
Quando a profissão foi criada a cerca de 260 anos, eles precisavam de um
profissional que praticasse a vigilância em saúde animal, e a promovesse por
meio da prática clínica, para que seres humanos não viessem a padecer de
doenças primárias de animais, genericamente conhecidas por zoonoses como a
raiva, leishmaniose, leptospirose, brucelose (não a banda de forró - kkkk), as
doenças parasitárias, entre muitas outras. Além das que estão por vir, como a
encefalite equina do leste, que acomete humanos também, só para exemplificar a
importância do Centro de Vigilância Ambiental (CVA) e do profissional Médico
Veterinário.
Venturosa360- Como sei de tuas experiências, até hoje creio
eu, nos esportes, no vôlei mais especificamente, e sempre puxando pra nossa
realidade local, Bruno percebes alguma mudança da época em que eras como os
mais jovens de agora, houve alguma evolução? Mais incentivo aos esportes e aos
que pratica ele em nossa cidade?
Bruno Pajeú - Os jovens vêm perdendo o
interesse por esportes, em meu entender. Hoje poderíamos ter uma gama maior de
atletas em nosso município, mas não acredito que seja, necessariamente, por um
erro de gestão. Incentivo sempre será importante, fato, e sempre foi
deficitário (opinião muito pessoal), mas o jovem, hoje, vive mais uma realidade
virtual, no compete ao âmbito das práticas esportivas, do que o que concebia em
minha época de maior engajamento desportivo. Temos várias quadras hoje em nosso
município, uma academia das cidades que é rotineiramente depredada pela ação de
vândalos. O nosso maior problema sempre será a educação e isso é em nível
nacional. As maiores potências esportivas são também uma referência no campo
educacional.
Venturosa360- Pensas em algum projeto para Venturosa, tens
pensado nisso? Algo ligado a teu campo de trabalho?
Bruno Pajeú - Tenho vários projetos para
o nosso município dentro da área de educação e no meio veterinário. Só para
ilustrar alguns: Projetos na área de:
Projetos na área de educação básica por meio da integração do ensino e
práticas voltadas para a comunidade como arborização da cidade, ecoturismo,
campanha de conscientização de lixo nas ruas, temas ligados à astronomia;
Educação e posse responsável dos animais domésticos;
Normatização da guarda comunitária dos cães de rua com acompanhamento
veterinário;
Assistência técnica sanitária ao trabalhador rural para elevar a
produção de leite e diminuir a incidência de doenças infecciosas nos rebanhos;
As ideias existem, mas tenho dois fatores que inviabilizam:
Tempo - não tenho;
Apoio – não acho que ninguém tenha interesse em comprar as ideias vindas
de uma pessoa que não tem força política e que irá demandar de investimento por
parte dos cofres públicos municipais. Essas ações, a verdade seja dita, não
garantem votos a nenhuma cor, sejamos bem justos. Mas as propostas existem.
Venturosa360- Qual o PONTO DE VISTA de Bruno Pajeú para as
políticas públicas desenvolvidas em Venturosa e voltadas a saúde animal, tens
conhecimento das mesmas, e se tem o que pensa a respeito dessas?
Bruno Pajeú - Acredito que as políticas
públicas são deficitárias. A questão não é exclusiva de um, mas de todos os
lados. O problema reside no fato de que o lado financiador, nas pessoas da
administração pública, não enxergam como “investimento” mas sim como “gasto”. E
a população beneficiária simplesmente não percebe a importância para seu
entorno que certas medidas podem trazer. A população, genericamente falando, é
imediatista. Vivemos em uma sociedade que valoriza muito mais os resultados de
cura do que as ações de prevenção. É muito mais fácil pedir pelo remédio,
agonizando de dor, do que evitar o problema por meio de mobilização pessoal e
disciplina. E por “remédio” aqui me refiro a remediação dos problemas e não
estritamente à questões de saúde propriamente.
Venturosa360- Suas considerações finais!
Bruno Pajeú - Pessoal estamos em um ano
eleitoral, fato. Por conta da pandemia, não teremos aquela micareta fora de
época que estamos aparelhados: carreatas, passeatas, festas de rua ao som de
“paredões”, xingamentos gratuitos e ofensas arbitrárias de dilapidação moral
(essas últimas acredito que permaneçam, o que é uma pena). Mas você tem a
chance de escolher quem lhes vai representar ou o que vai representar os seus
valores. Não estou falando de amarelo, verde, vermelho, “gato véio”, “bacurau”
ou qualquer coisa congênere. Estou falando de política. Por mais que seja
difícil, você deve quebrar essa corrente de favores pretenciosos do lado A ou
do lado B. Você tem que ter pernas para seguir a sua caminhada e saber trilhar
o caminho pelo seu próprio esforço e mérito. Porque se você for se sustentar em
um sistema que lhe carrega, quando essa ideologia cai, você percebe que,
sustentando-se nisso, desaprendeu a andar e ficará inválido por pelo menos
quatro anos. Eu não me eximo dessa condição, estamos todos no mesmo barco –
devemos nos cobrar. Independentemente de quem quer que sejam os eleitos,
devemos torcer para que façam uma boa administração em seus respectivos cargos,
pois pelas decisões deles passam o seu futuro e o meu. Mas só pela força da torcida,
um time não vence. É necessário uma contrapartida do cidadão enquanto agente
ativo do processo.
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