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Ponto de Vista: Eduardo Libório




O Entrevistado da semana é "poesia na vida" de todos que também tem o prazer de conhecê-lo. Não é filho natural de Venturosa, mas Venturosa o escolheu e acolheu como filho seu! Eduardo Libório é o nosso entrevistado semanal, que nos deixou não apenas sua opinião sobre a cultura local, como fez-se conhecer a sua história e sua luta junto por uma cultura merecidamente valorizada, onde tem-se a necessidade de sua arte ser conhecida e reconhecida pela cidade que o tem como um filho.



Venturosa360- Quem é Eduardo Libório?

Eduardo Libório - Sou um pernambucano, filho de Garanhuns e de Venturosa. Apaixonado pelos folhetos de cordel, em um relacionamento sério com a poesia. Católico. Licenciando em letras pela UFAPE – Universidade Federal do Agreste de Pernambuco. Poeta, cordelista, declamador, produtor cultural e defensor da cultura popular.



Venturosa360- Eduardo como começastes teu interesse por a poesia? Você escolheu o cordel ou ele que te escolheu?

Eduardo Libório - Comecei a me interessar pela arte da poesia ouvindo cantoria de repente. Através da cantoria conheci os grandes poetas Jessier Quirino e Chico Pedrosa, esses são minhas referências para produzir meus versos.

Fui ouvindo e aprendendo a produzir, primeiramente só rimando, não havia preocupação com a métrica dos versos, depois comecei a contar as sílabas, aprendi metrificar e dar ritmo aos poemas e hoje raramente escrevo versos livres, que não possuem métrica.


Venturosa360- Quem te inspirou e te inspira em teus cordéis? Quais momentos te leva a escrever? Como fazes a produção deles?

Eduardo Libório - Ninguém faz poesia, porque ela simplesmente já existe. Ferreira Gullar dizia que a poesia é a quebra da rotina, e aí está a resposta: me inspiro nas quebras de rotina que fazem a poesia acontecer.

Meus primeiros poemas foram para moças, que abruptamente quebraram minha rotina. Depois fiz diversos poemas para ocasiões específicas na querida EREM Quitéria Wanderley Simões.

Às vezes fico 2, 3 meses sem escrever poemas e as vezes escrevo 3, 4 poemas num só dia. Primeiro surgem as ideias do poema, que na cabeça é perfeito, prático e pronto, mas, de vez em quando, na hora de passar essas ideias para o papel começa o maior trabalho, as palavras não casam, os versos não cabem e o poema não sai. Tem poemas que custam meses para que eu consiga espremê-lo da cabeça e derramá-lo no papel.

Mas esse negócio de “inspiração”, de “dom” de escrever é uma grande ilusão, talvez “combustão de poeta”, na verdade só se escreve bem com muita prática e com esforço, e isso serve não só para poemas e também não só para a escrita, mas pra tudo, por isso dizem que “a prática leva a perfeição”.

 

Venturosa360- Como um futuro professor e já educador na função de cordelista, poeta que és, como veres a educação do nosso país e do nosso município?

Eduardo Libório - Educar é um ato de amor, já dizia Paulo Freire, e é também um ato de coragem. São muitos os desafios de trabalhar com a educação, processos complicados, planejamentos, intervenções.

Por muitas vezes professor é tido como o detentor do saber, que transmite um conteúdo para os alunos, mas ele deve ser muito mais que isso, ele deve criar possibilidades para que os próprios alunos produzam conhecimento.

Com a brusca mudança do ensino presencial para o ensino on-line perdeu-se muito. A pandemia escancarou a desigualdade social que sempre existiu, mas que as vezes passa despercebida. A educação deve ser inclusiva, inclusão social, digital, cibercultural.

A educação não pode e nem deve ser simplesmente uma formação técnica, com conteúdos rígidos, mas deve oferecer também uma formação humana e cidadã.

 


Venturosa360- Quais pontos positivos e negativos que veres na atuação cultural da nossa cidade?

Eduardo Libório - A cultura tem passado por momentos difíceis em todo canto, mas resiste e há de permanecer firme. Vejo em nosso município, e não somente nele, mas em vários municípios espalhados pela região, uma falta de valorização dos artistas locais. Faltam espaços físicos para exposição e venda de trabalhos artísticos. Falta dar espaço aos artistas locais nos palcos de eventos municipais. Falta pagar pelo trabalho de artistas locais, valorizando suas artes, e diminuir os “zilhões” em cachês de grandes artistas.

Tem muita gente super talentosa que sonha subir num grande palco, porém nunca teve essa oportunidade.

Mas apesar de tudo isso, muitos artistas têm se sobressaído e trilhado bons caminhos no setor cultural. Venturosa é repleta de artistas, tem muita gente boa por aí. Precisamos de políticas que reconheçam e valorizem o trabalho da classe artística.

 

Venturosa360- Nas suas andanças levando seus cordéis e nossa Venturosa para mais longe, como estes são receptivos a sua poesia? E como vêm e recebem um jovem de uma cidade que tem um celeiro cultural tão forte, mas que, porém, com espaços tão escassos para a ala cultural de seus munícipes?

Eduardo Libório - Por onde tenho passado declamando meus poemas e cordéis tenho sido bem recebido, sempre que possível levo comigo minha super equipe técnica, Kauany Alves e Maysa Siqueira. Nas minhas apresentações sempre noto que o público é bastante receptivo, pelas expressões e risadas ao longo do recital. Nos lugares que passo e abro minha mala de cordéis sempre vendo bastantes livretos, talvez pelas belíssimas capas assinadas pelos meus ilustres ilustradores Vinícius Ferreira, Vitória Carolina e Wellington Rocha.

Nada é feito de maneira individual, por trás do recital e dos meus cordéis há uma super equipe formada por grandes artistas venturosenses, que estão esperando uma oportunidade para se mostrar, se arriscar no setor cultural.

  

Venturosa360- Traga sua análise para nossos leitores sobre a Lei de Aldir Blanc.

Eduardo Libório - A lei de emergência cultural, que recebeu o nome do grande Aldir Blanc, foi uma grande vitória da classe artística, que ultimamente vem sofrendo duros golpes. A lei garante aos fazedores de cultura uma renda que, por conta da pandemia, deixaram de receber. O setor cultural foi o primeiro a parar e deve ser um dos últimos a voltar à normalidade.

A lei Aldir Blanc teve um papel importante também por forçar os municípios a dialogar com os artistas, esse é um diálogo importantíssimo e que só tende a fortalecer as expressões culturais locais.

No momento estamos todos ansiosos aguardando a regulamentação da lei, esta deve sanar muitas dúvidas tanto dos artistas quanto dos gestores municipais. Com a regulamentação também virá a liberação da verba para estados e municípios.

Cultura não é, nunca foi e nunca será um gasto, Cultura é investimento!!



Venturosa360- Deixe-nos seu PONTO DE VISTA acerca do cenário político atual de nosso país, estado e município!

Eduardo Libório - Primeiramente eu acho que o Brasil precisa urgentemente de um governo. Um governo que seja, no mínimo, responsável, e que se preocupe com o povo. Governo cruel, absurdo e desastroso.

Quanto às políticas estaduais destaco o fundo cultura de Pernambuco, o Funcultura, um dos maiores do Brasil. No entanto a política dos editais da Secult/PE e da Fundarpe é extremamente burocrática, dificulta e retarda a viabilização de projetos culturais.

Me isento de mais comentários.

E por fim, reforço meu #ForaBolsonaro!!



Venturosa360-  Nas considerações finais nos presentei com um cordel sobre sua entrevista ao nosso blog e o que queres passar para nossos leitores.

Eduardo Libório - Esse poema aqui é o primeiro que publiquei em um livro, pela editora Porto de Lenha, do Rio Grande do Sul.

 

Poesia Viva

 

Faça sentido na vida

De alguém que você gosta.

Torne a vida mais feliz,

Dê-lhe um “SIM” como resposta.

Espalhe felicidade,

Semeie cumplicidade,

Não tenha uma vida à toa,

Sobre a vida, sobreviva.

Seja poesia viva

Na vida de outra pessoa

 

Dê pra ela inspiração,

Razão pra se viver bem.

Seja mote, seja glosa,

Seja poema também,

Seja luz que alumia,

Seja arrebol que irradia

O clarão que o sol nos doa,

Cante que nem patativa,

Seja poesia viva

Na vida de outra pessoa.

 

Seja um amigo e se doe,

Seja e faça a diferença,

Leve um sorriso no rosto,

E terá como recompensa

Outra pessoa ajudar,

E um seu sorriso arrancar

Será coisa muito boa:

“Alegria instintiva”.

Seja poesia viva

Na vida de outra pessoa.

 

 

Se não for por amizade

Que seja então, por amor.

Mesmo não correspondido

Busque sempre mais fervor.

Ame como uma criança,

Sempre com perseverança.

E lembre quem ama perdoa,

Pois tem a alma passiva.

Seja poesia viva

Na vida de outra pessoa.

 

Eduardo Libório.




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